sábado, 7 de dezembro de 2013

A doce Inutilidade


"A velhice nos traz direitos maravilhosos.
A juventude nos traz muitas obrigações.
Como é difícil ser jovem e ter o direito de se cansar.
O idoso não, pode deitar na hora que quiser!

As vezes a gente tem uma agenda tão pesada, que não temos o direito de adoecer.
E a velhice é o tempo que podemos viver a doce inutilidade.
Não tem como fugir, mais cedo ou mais tarde teremos que experimentar o território desconcertante da inutilidade.
A gente sabe que essa palavra é pesada, mas esse é o movimento natural da vida.

Perder a juventude, de alguma maneira é perder a sua utilidade.
É uma consequencia natural da idade que chega, quando o tempo sopra sobre nós essa poeira.
Quando a gente vai perdendo as habilidades e destrezas da juventude, experimentamos da inutilidade que a natureza nos proporciona.

Mas veja pelo lado bom, a gente tem que ser otimista, a utilidade é uma coisa muito cansativa.
Está certo, realizar, humanamente falando é interessante saber fazer coisas.
Acredito que a utilidade é um terreno muito perigoso, por que muitas vezes achamos que o outro gosta da agente.
Mas não, o outro está interessado somente pelo o que nós fazemos para ele.
É por isso que a velhice é esse tempo em que passa a utilidade e fica só o seu significado como pessoa.
É um momento em que a gente purifica, é um momento em que a gente vai ter a oportunidade de saber quem nos ama de verdade.
Por que só nos ama, só vai ficar até o fim, aquele que da nossa utilidade descobrir o nosso significado.

Peça a Deus para que possa envelhecer ao lado das pessoas que o amam, aquelas pessoas que possam  proporcinar a tranquilidade de ser inútil, mas ao mesmo tempo sem perder o valor.

Se você quiser saber se o outro te ama de verdade, é só identificar se ele seria capaz de tolerar a sua inutilidade.
Quer saber se você ama alguém pergunte a sí mesmo, quem nessa vida já pode ficar inútil para você sem que sinta o desejo de jogá-lo fora? é assim que nós descobrimos o significado do amor, só o amor nos dá condições de cuidar do outro até o fim.

Feliz aquele que tem ao final da vida a graça de ser olhado nos olhos e ouvir a fala que diz: você não serve para nada, mas não sei viver sem você!"

Texto: Pe Fábio de Melo
Paisagem: Praia de Alter-do-Chão, Santarém-Pa
Foto de Rodrigo Farias